Na proximidade das eleições, é preciso oferecer aos cristãos um critério sólido para escolher os candidatos.
Se
um edifício tem uma fachada linda, paredes bem resistentes, pilares
grossos, mas não tem alicerce, ninguém de bom senso se atreverá a morar
nele.
Assim,
há candidatos com muitas qualidades humanas: capacidade de
administração, boa retórica, boas relações com o público, preparo
intelectual, mas nenhum cristão pode votar neles se houver falhas no que
há de fundamental: o respeito à vida e à família.
Para
escolher um candidato, é preciso examinar três coisas: primeiro, o
seu Partido, segundo o seu Passado e, por último, as suas Promessas. É
importante observar a ordem deste PPP. As Promessas estão em último
lugar. Não devemos dar importância a elas se o Partido do candidato é
antivida ou se o candidato no seu Passado favoreceu a cultura da morte.
1º) O Partido
A
Igreja, justamente por ser católica, isto é, universal, não pode estar
confinada a um partido político. Ela “não se confunde de modo algum com a
comunidade política”[1] e admite que os cidadãos tenham “opiniões
legítimas, mas discordantes entre si, sobre a organização da realidade
temporal”[2].
Isso
não significa, porém, que os fiéis católicos podem filiar-se a qualquer
partido. Há partidos que abusam da pluralidade de opinião para defender
atentados contra a lei moral, como o aborto e o casamento de pessoas do
mesmo sexo. “Faz parte da missão da Igreja emitir juízo moral também
sobre as realidades que dizem respeito à ordem política, quando o exijam
os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas”[3].
Um
exemplo de um partido incompatível com a moral cristã é o Partido dos
Trabalhadores (PT). No 3º Congresso do PT, ocorrido entre agosto e
setembro de 2007, foi aprovada a resolução “Por um Brasil de mulheres e
homens livres e iguais”, que inclui a “defesa da autodeterminação das
mulheres, da descriminalização do aborto e regulamentação do atendimento
a todos os casos no serviço público”[4]. Todo
candidato filiado ao PT é obrigado a acatar essa resolução. O Estatuto
do PT põe como requisito para ser candidato pelo Partido “assinar e
registrar em Cartório o ‘Compromisso Partidário do Candidato ou
Candidata Petista’” (art. 140, c)[5]. Tal assinatura, diz o Estatuto,
“indicará que o candidato ou candidata está previamente de acordo com as
normas e resoluções do Partido, em relação tanto à campanha como ao
exercício do mandato” (art. 140, §1º). Se o político contrariar uma
resolução como essa, que apoia o aborto, “será passível de punição, que
poderá ir da simples advertência até o desligamento do Partido com
renúncia obrigatória ao mandato” (art. 140, §2º). Em 17 de setembro de
2009, dois deputados petistas (Luiz Bassuma e Henrique Afonso) foram
punidos pelo Diretório Nacional. O motivo alegado é que eles
“infringiram a ética-partidária ao ‘militarem’ contra resolução do 3º
Congresso Nacional do PT a respeito da descriminalização do aborto”[6].
Não
deve causar espanto que o PT aprove o aborto, uma vez que já no artigo
1º de seu Estatuto, tal partido se declara defensor de uma doutrina
inúmeras vezes condenada pela Igreja: o socialismo[7].
Convém aqui recordar o ensinamento dos dois Papas canonizados pelo Papa Francisco: João XXIII e João Paulo II.
São
João Paulo II explica que “o erro fundamental do socialismo é de
caráter antropológico. De fato, ele considera cada homem simplesmente
como um elemento e uma molécula do organismo social. [...] O homem é
reduzido a uma série de relações sociais, e desaparece o conceito de
pessoa como sujeito autônomo de decisão moral”[8].
O
socialismo vê na criança por nascer algo que está subordinado à vontade
da sociedade. Se for proveitosa para a sociedade, que nasça. Se for
trazer ônus ao Estado, se trouxer mais custos que benefícios, que seja
abortada.
Explica-se
assim como há uma afinidade estreita entre o socialismo e a causa
abortista. Não é à toa que o primeiro país do mundo a legalizar o aborto
foi a Rússia, em 1920, logo após a revolução comunista de 1917. Não é à
toa também que durante a vigência do nazismo (nacional socialismo), a
Alemanha legalizou a prática do aborto com fins de purificação da raça
(eugenia). Não é à toa que na China, que se tornou comunista desde a
revolução de 1949, o aborto não é só permitido, mas até obrigatório como
meio de controle de natalidade. E não é à toa que em Cuba, sob o regime
dos irmãos Castro, ocorrem anualmente cerca de 66 abortos provocados
para cada 100 partos![9]
Poderia
haver um tipo de socialismo tão suave que pudesse ser aceito pelos
cristãos? A essa pergunta, São João XXIII responde negativamente,
recordando os ensinamentos de seu predecessor Pio XI: “Entre comunismo e
cristianismo, o Pontífice declara novamente que a oposição é radical. E
acrescenta não poder admitir-se de maneira alguma que os católicos
adiram ao socialismo moderado”[10].
Eis a lista dos partidos políticos brasileiros que se declaram comunistas ou socialistas:
Partido dos Trabalhadores (PT) – 13
Partido Comunista Brasileiro (PCB) – 21
Partido Popular Socialista (PPS), sucessor do PCB – 23
Partido Comunista do Brasil (PC do B) – 65
Partido da Causa Operária (PCO) – 29
Partido Democrático Trabalhista (PDT) – 12
Partido da Mobilização Nacional (PMN) – 33
Partido Pátria Livre (PPL) – 54
Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) – 50
Partido Socialista Brasileiro (PSB) – 40
Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) – 16
Partido Verde (PV)[11] – 43
Exclua, portanto, os candidatos cujos números começam por
13, 21, 23, 65, 29, 12, 33, 54, 50, 40, 16 e 43.
Não
votar em tais candidatos – mesmo que sejam seus amigos – é um ato de
correção fraterna. Votar neles é ser cúmplice do erro que eles cometeram
ao filiar-se a um partido anticristão.
2º) O Passado
Excluídos
os candidatos pertencentes aos partidos acima, é preciso agora examinar
o passado de cada candidato. Se ele já foi parlamentar, deve-se
examinar como foi o seu voto nas questões relativas à vida e à família.
Verifique, por exemplo[12]:
1)
se em 02/03/2005 ele foi um dos deputados que votou contra ou a favor
do artigo 5º da Lei de Biossegurança, que permite a destruição de
embriões humanos.
2)
se em 13/08/2008 ele foi um dos deputados que assinaram o Recurso
0201/08, de José Genoíno (PT/SP), solicitando que o projeto abortista PL
1135/91 não fosse arquivado, mas primeiro fosse apreciado pelo plenário
da Câmara.
3)
se em 28/05/2009 ele foi um dos deputados que assinaram a PEC 367/2009,
pretendendo dar um terceiro mandato (pró-aborto) ao presidente Lula.
4)
se em 19/05/2010 ele foi um dos deputados que votaram contra o Estatuto
do Nascituro na Comissão de Seguridade Social e Família.
5) se em 22/04/2014 ele foi um dos senadores que votaram a favor da ideologia de gênero no Plano Nacional de Educação.
3º) As Promessas
As
promessas de defender a vida desde a concepção até a sua morte natural
etc., ainda que sejam feitas por escrito e assinadas, só têm algum valor
se o candidato já venceu as duas etapas anteriores: o Partido e o
Passado. É totalmente inútil, por exemplo, que um candidato petista
(que, portanto, já assinou o Compromisso Partidário do Candidato
Petista em defesa do aborto) venha agora assinar um outro compromisso em
defesa da vida. Cuidado, portanto, com os “pró-vida” de última hora!
Anápolis, 13 de agosto de 2014.
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
Presidente do Pró-Vida de Anápolis
[1] Concílio Vaticano II, Constituição Pastoral “Gaudium et Spes”, n. 76.
[2] Concílio Vaticano II, Constituição Pastoral “Gaudium et Spes”, n. 75.
[3] Catecismo da Igreja Católica, n. 2246, citando “Gaudium et Spes, n. 76.
[4] Resoluções do 3º Congresso do PT, p. 82. in: http://old.pt.org.br/arquivos/Resolucoesdo3oCongressoPT.pdf
[5] Partido
dos Trabalhadores. Estatuto, art. 140, c
in: http://old.pt.org.br/arquivos/ESTATUTO_PT_2012_-_VERSAO_FINAL_registrada.pdf
[6] DN
suspende direitos partidários de Luiz Bassuma e Henrique Afonso.
Notícias. 17 set. 2009,
in: http://www.pt.org.br/portalpt/documentos/dn-suspende-direitos-partidarios-de-luiz-bassuma-e-henrique-afonso-254.html
[7] “Art.
1º – O Partido dos Trabalhadores (PT) é uma associação voluntária de
cidadãos e cidadãs [...] com o objetivo de construir
o socialismo democrático”.
[8] JOÃO PAULO II, Encíclica Centesimus annus, 1991, n. 13.
[9] Cf. Anuario Estadístico de Salud 2013, p. 166, in: http://files.sld.cu/dne/files/2014/05/anuario-2013-esp-e.pdf
[10] João XXIII, Encíclica Mater et magistra, 1961, n.º 31
[11] O
PV não se declara socialista, mas em seu Programa defende o
homossexualismo e a legalização do aborto
(cf. http://pv.org.br/wp-content/uploads/2011/02/programa_web.pdf).
[12] Pode-se verificar isso clicando em “Como votaram”, no sítio do Pró-Vida de Anápolis: http://www.providaanapolis.org.br
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